Um dos prazeres recentemente descobertos, Starbucks. Bebia moca, comia uma bolacha com recheio a mel e, tiro os olhos de "Rosa Brava", o livro que trago ultimamente na mala e leio no balcão da loja - dia internacional do café. A minha relação com o néctar, mais consumido no mundo (depois da água) não começou bem. Amargo, nunca compreendi o porquê dos portugueses renderem-se à bica, como se de ar precisassem para respirar. Cresci a ouvir conversas do estilo "eu bebo 9 cafés por dia", dito em tom brioso como um grande feito, por outro lado, juntava-se alguém só para contrariar revelando os malefícios do café. Teoria há muito caiu por terra.
Pesquisas já desenvolvidas, provam a acção estimulante sobre o sistema nervoso e, em doses moderadas – três a quatro cafés por dia - aumentam a atenção, a concentração e a memória de curto e médio prazo - poderão actuar na prevenção do cancro do cólon e recto, doença de Parkinson e de Alzheimer, apatia, depressão, obesidade infantil ou diabetes tipo II.
Se nos países latinos o café, faz sentido - curtinho e cheio de espuma cremosa no topo - noutros casos o expresso, é tão simplesmente uma expressão do universo romântico-boémio italiano, pelo que continuam a preferir enormes copos de água quente a saber a cafeína, ao que designam "café". Até há pouco tempo, antes da chegada das máquinas da Nespresso, consideradas pequenas obras de arte ( e convenhamos, o George Clooney também deu um valente empurrão), a celebrar-se o expresso como "lifestyle", o Christopher veio a Lisboa. A primeira coisa que desejava, beber um café a acompanhar a refeição. Expliquei-lhe, essa não é prática em Portugal. Insistia no café, mas depois de muito lhe dizer que não faria sentido, pediu uma coca-cola, com a promessa de bica no final da refeição. Riu, riu tanto na minha cara, como era possível servirmos o café numa chávena daquele tamanho? Bebeu, e não teve opinião formada, mas continuava de olhos colados na chávena como se fosse peça de museu ou uma bizarria. No dia seguinte, Christopher, revelava-se viciado, 3 e 4, o rapaz amorfo, ficou com um "speed"que receei pelo seu bem estar. Já em Inglaterra, lamentou (como nunca fizera) o miserável café que lhe serviam numa caneca enorme. O "chóninhas" sem vida, voltaria, ao que sempre foi e ao falarmos pelo telefone, arrastava um sotaque "british", mas sem brilho.
Se por um lado o café é transversal a todas as classes sociais, a sua vulgarização, deixou-me desde sempre de pé atrás. O típico convite "vamos beber um cafezinho?", ainda hoje me arrepia, mas após descobrir que o "néctar amargoso", servia de "motor" no meu dia a dia, aderi ao ritual e sou mais uma nas sondagens, consumidora activa de cafeína. Curiosamente, a Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) confirma, Portugal em termos de consumo, está muito abaixo da média europeia.
Em Itália, belas mulheres de maquilhagem carregada e acessórios arrojados, povoam as esplanadas, bebem o seu café expresso e riem a bandeiras despregadas, com o charme latino que as caracteriza, num estilo que reafirma a sua posição de mulheres cosmopolitas. Esta imagem ficou-me gravada nos anúncios que via nos 80s, sinónimo de mulheres activas e atractivas.
Mesmo que beba a minha bica às pressas num tasco rançoso, sempre sem adição de açucar, nada muda a minha opinião relativa ao sabor. Dias há que faço caretas enquanto o bebo, como se tratasse de um remédio, mas de alguma forma é o meu "happy pill" para mais um dia que se avizinha. Não só pela cafeína que me transforma numa pessoa mais activa, fico também optimista e capaz de superar desafios. Depois há uns cafés que bebemos tranquilamente e nesses, no meio de todas as vantagens já designadas, ganho qualidade de vida, porque há a partilha de histórias na tal esplanada, onde se soltam gargalhadas ao vento. É esse espírito que muitas marcas de café exploram no marketing, arronjando na imagem, mais ou menos surrealista, mas sempre com uma chávena expresso por perto. A Lavazza, todos os anos aposta em belíssimos calendários, imagens inesperadas, fruto do trabalho de nomes tão relevantes como David LaChapelle.
O Starbucks, a cadeias norte americana com lojas em todo o mundo e que há poucos anos chegou a Portugal, tem tudo para assegurar um estilo de vida citadino, mas o verdadeiro café, não diria. Os criadores da marca, pegaram numa forma de estar muito europeia, deram-lhe o toque especial, oferecendo bebidas com cafeína ( e um sem número de outros aditivos) para assim justificar o valor absurdo a cobrar por cada artigo. E naquele momento, mediante tanta variedade saborosa, sentimo-nos clientes mimados e queremos mostrá-lo ao mundo inteiro. Beber o verdadeiro café, o curtinho e forte, é antes de entrar no trabalho, para aquele impulso matinal que precisamos. No Starucks, apetece-nos ir pela cidade, o copo na mão e ficamos com pinta de turistas no nosso próprio país. Como uma mala, o copo do Starbucks é um dos acessórios mais "trendy" da actualidade e não é por acaso que a Dsquared2 , levou-os para a Passerelle. As celebridades não o dispensam e o comum mortal, ao que parece, também não!
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