domingo, 1 de abril de 2012

A Moda é "da gente"!


Nas grandes capitais europeias, não cai os "parentes na lama" a ninguém, por andar de transportes públicos. Em Lisboa, com a nossa rede da qual pouco me queixo, reforça o status de um indivíduo; enfrentar intermináveis filas de trânsito, estacionar em cima dos passeios ou acumular multas da EMEL no porta luvas da viatura. Dizia uma amiga, o autocarro cheira a gente, motivo pelo qual ainda não a consegui demover de usar o carro para ir trabalhar, mas é realmente no meio "da gente" que a inspiração acontece para tudo na vida. E numa área criativa como a minha, preciso disso como de pão para a boca.

"Segundo o filósofo Manuel Fontán de Junco, a moda conseguiu estabelecer uma ponte entre a beleza e a vida. É uma arte que se usa, que se leva para a rua; é uma arte de consumo a que todos têm acesso." - In METRO «A Sociologia da Moda» Ana Rita Clara

É nessas deambulações que vejo a multiplicidade da Lisboa que é cada vez mais do mundo, sinto-me num museu de arte, embasbacada com tanta  cor, numa paleta tão variada, nesta cidade, não é a maravilhosa, mas também tem encantos, ai se os tem. E as lojas que encontramos, pechinchas atrás de pechinchas, sem a ditadura dos centros comercias, às vezes há feiras de artesanato e artigos únicos, outras vezes autênticas relíquias, ou uma inesperada feira de artigos de segunda mão, no meio "da gente" .


"Coco Chanel defendia que a Moda não é algo presente apenas nas roupas. A moda está no céu, nas ruas, a moda tem a ver com ideias, a forma como vivemos, o que está a acontecer à nossa volta. Esta ligação daquilo que é uma tendência perpétua, o poder do estilo, evidencia que a moda é muito mais do que vestir a peça certa". - In METRO «A Sociologia da Moda» Ana Rita Clara

 A Tarefa de criar um blog desta natureza, não é fácil para nenhuma de nós as três, leigas absolutas em moda, resta-nos o facto de sermos mulheres, acreditarmos  no sentido apurado resultando da própria genética feminina e muita vontade. Acima de tudo, este espaço é uma espécie de notebook (bloco de notas) da nossa própria aprendizagem, o que vamos retendo das observações diárias. O nosso principal objecto de estudo; as pessoas nas ruas e não as modelos nas passerelles. Com "modelitos" mais bem sucedidos e outros, talvez para esquecer,  lembramos que até no mundo do "Jet Set" existe a lista dos mais mal vestidos. Por isso, há dias que, desde a roupa interior, até ao mais discreto acessório, nada parece funcionar. Porque sou humana e gosto deste meu lado frágil e falível, admito, talvez nessas alturas o melhor "costume" seja a camisa de dormir e uma toca na cabeça. 

"Moda significa costume e provem do latim modus. Significa que é composta de diversos estilos e podem ter sido influenciados sob vários aspectos. Acompanha o vestuário e o tempo, que se integra, ao simples uso das roupas no dia a dia. " - In METRO «A Sociologia da Moda» Ana Rita Clara

Talvez faltasse um pouco de "B-Á.BÁ" neste post, uma descrição quase clínica do que é a moda, como se na essência, hoje, isso quisesse realmente dizer alguma coisa. Acima de tudo, vejo-a como das coisas mais divertidas que tenho a fazer, mesmo que desafiantes, logo pela manhã. Não me ralo se me perguntam "ao que venho mascarada", como já aconteceu, se reclamam do fluorescente dos meus All Star ou contestam que as botas Dr. Martens saíram de moda. Cá em casa, eu sou a melhor "Stylista" do mundo, afinal não há mais nenhuma!

"Com as privação da I guerra Mundial (1914-18) quando a mulher assumiu novos papeis ( enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam na indústria bélica), as roupas que usavam tiveram de ficar mais práticas. Com as privações causadas pela guerra, surgiram novos materiais, inclusive o uso de tecidos pouco nobres. Estamos a falar de necessidades sociais mas que marcam inovação no uso das peças e como as escolhas reflectem novas atitudes. - In METRO «A Sociologia da Moda» Ana Rita Clara

Reutilizar é o espírito desta equipa, em Trendy With Tea como o Lado B, e mais pausado de um grupo de miúdas esforçadas com um lado A, numa versão virada para a oferta de artigos de segunda mão em A Crise Não Mora Aqui. Conta-se das mulheres desenharem a tinta negra, na parte de trás das pernas uma longa linha vertical, simulando collants quando na verdade não os usavam,  em plena II Guerra Mundial, é a prova de que em tempo de privação, há sempre alternativas. E para como eu, amante de felinos, aplica-se lindamente o ditado "quem não tem cão, caça com gato". De resto, foi com base nesse espírito, que acreditamos nas grandes oportunidades de negócio em momentos de austeridade. Vendemos em segunda mão, excelente estado e a preços praticamente sem concorrência. Uma vez mais, se nas grandes capitais mundiais, comprar em segunda mão, representa a possibilidade de encontrar raridades e peças de colecções antigas. No Portugal dos pequeninos, ainda há um preconceito aterrador, uma certa vergonha até, como se tivéssemos de mostrar ao vizinho o que valemos pelas lojas onde compramos, para assim exorcizar o historial de 40 anos de "pobreza franciscana", imposta por um senhor, cuja a maior estilista portuguesa partilha o sobrenome, Salazar, Ana Salazar, pedra basilar da moda nacional.
"Quando falamos de moda, falamos de arte humana. Feita por e para o Homem. Deixemos os preconceitos onde merecem estar, bem guardados e concentremo-nos naquilo que implica as tendências no nosso estado, no nosso país. " In METRO «A Sociologia da Moda» Ana Rita Clara

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