segunda-feira, 9 de abril de 2012

Eu é mais Cacilheiro...

atracando, para os lados do Cais Sodré. A poucos metros, quiosques de bifanas ou ruas estreitas com senhoras a fazer pela vida. Diria, o Cacilheiro, talvez seja, o verdadeiro barco "inafundável", afinal bastam cerca de 8 minutos para atravessar o Tejo de uma ponta à outra. Grande galo, já não nos basta o carimbo (tantas vezes) desprestigiante de "outrabandistas", bater com os costados na água numa fracção de 8 minutos! E caso, o velho laranjinha se afundasse, duvido encontrarem-se magníficas peças como as leiloadas dia 15 em N.Y. City, numa colecção de 5 mil artigos. Imagino, nas águas do Tejo, umas quantas crocks falsificadas e compradas no chinês a boiar sem rumo, ou com sorte, uns trapinhos da Zara entre o lodo e a servir de poiso às gaivotas em terra.


Entre os itens, apresentados pela Casa de Leilões de Norte Americana RR Auctions, estão o recibo de pagamento de um tripulante, um medalhão de ouro, uma carta de duas páginas escrita por Wallace Hartley, um dos integrantes da orquestra do transatlântico e uma espreguiçadeira do convés. Nem por acaso, é mesmo uma dessas que procuro para a minha marquise, talvez num IKEA mais perto de mim, sem valor histórico, mas com um preço mesmo à medida de uma carteira, resultado (não de um barco afundado), mas de uma economia a "balões de oxigénio".  


Há, ainda, um quimono de seda usado pelo ícone da moda britânica Lady Duff-Gordon. Ela estava vestida com ele quando foi resgatada do naufrágio. É possível "espiolhar" algumas peças através da internet, e assim imaginar cada história, pessoa, ou família ligada de forma emocional a estes objectos que completam o pano de fundo "Titanic" como um magnífico puzzle, intemporal, passados 100 anos. Há pequenos acessórios, à época  apenas acessíveis às classes abastadas, hoje traduzidas de forma contemporânea e a preços tão mais atractivos. Chapéu de coco, pregadeiras ou colares de pérolas são apenas exemplos, de objectos, usados pela alta-sociedade, e pela carga histórica são actualmente de valor incalculável. Porque a moda é replicar, ou costumizar, cada um no seu registo, eu já não dispenso o meu colar de pérolas, movendo-me numa Lisboa urbana.


Olhamos, para trás no tempo, e talvez nada se tenha perdido, a não ser as dezenas de vidas numa obra da enginharia naval grotescamente falível, tudo o resto, é a história que parece repetir-se uma vez mais. Há cem anos, afundou-se um dos maiores barcos de sempre, hoje afundam-se as maiores economias do mundo. Nós,os tripulantes, tentamos sobreviver, mantendo-nos à tona, mas sempre com muito estilo.

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