sexta-feira, 23 de março de 2012

Prisão de Afectos ...


As piores prisões são as que se encontram dentro de nós e não as que pensamos impostas pelos outros ... uma das premissas do novo filme de Margarida Gil, «Paixão». Surpreendente, é diferente de tantos outros; Simbólico, poético, romântico, reflecte a extrema tristeza e solidão em plena cidade, ou o desespero por companhia. Um historial de luto familiar leva a um acto desesperante, o rapto de um jovem.

«Paixão» não deixa os créditos alheios na fotografia e cenografia, que muito contribui para a compreensão do argumento, num enredo que se desenvolve lentamente com espaço para os personagens respirarem. São teatrais, na postura ou nos diálogos, distanciando-o de outras películas. Destaque, produção do notável Paulo Branco, figura carismática do Cinema Português.

Uma cantora lírica rapta um jovem, numa noite  de sexo fortuito, no místico Bairro Alto. O espaço é sempre o mesmo, um quarto coberto de humidade, porém, o relacionamento entre o raptor e raptado passa por várias fases: revolta, desprezo, raiva e inesperadamente, suscita amor, pena, carência, dependência e solidariedade. A dependência emocional, lembra casos clínicos como Síndrome de Estocolmo, a vitima apaixona-se pelo raptor. Afinal quem está realmente preso? 

Em «Paixão» os papeis invertem-se e o jovem consegue, finalmente, libertar-se. Não consegue, porém, manter-se ausente por muito tempo, e as regras do "jogo" ficam ao contrário, e agora é a cantora a presa, deixando-se dominar, revelando que toda a força demonstrada até ao momento, era apenas forma de camuflar a fragilidade de uma mulher que perdera todos os motivos para viver. 

O final, ambíguo; qual o futuro deste casal improvável?  Encondem-se na casa em ruínas, local da acção, e de seguida há uma derrocada. Desfecho poético, numa sociedade que perdeu o romantismo e a crença no que realmente importa. O primado do Exterior em detrimento do interior.

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