terça-feira, 20 de março de 2012

A propósito de Florbela ...

Fomos ver há dias o filme sobre a adaptação livre da poetisa, Florbela Espanca. Espectacularmente bem realizado, com uma fotografia magnífica e que acompanhava a definição do tempo presente, do tempo onírico e a revelação dos desequilíbrios emocionais da protagonista, assim como do prenúncio da morte do irmão Apeles, numa elegante queda de neve sobre a poetisa deitada na cama.

O elenco encontra-se à vontade com as personagens, dando-lhe corpo, alma e charme dramático das vivências e contradições das mesmas. O contexto dos loucos anos 20 é elegante, nos cenários exteriores com a adaptação das ruas à época ou nos interiores e, especialmente no guarda roupa.

Ficamos a saber um pouco mais sobre a vida desta poetisa alentejana, sobretudo a faceta moderna, um tanto libertina do que teríamos imaginado. Vemo-la incompreendida, insatisfeita, presa aos cânones de um Portugal a entrar numa longa noite escura, a  Ditadura. De atribulada vida afectiva, penitenciando-se com um quotidiano caseiro e tão típica de uma mulher tradicional à época, quer na verdade regressar ao social, livre de prisões e reprimendas. A esta revolta, incompreensão é vista na relação de cumplicidade-atracção com seu querido e amado irmão, Apeles. Uma paixão proibida que queimava os pensamentos mais recondidos das personagens, ultrapassando assim os limites da ética e moral. A dor da perda do seu estimado irmão, é reflexo na poesia povoada de pensamento sobre a Morte, o luto e os próprios mortos. Psicologicamente, Florbela degrada-se dia a dia, com desvarios e tentativas de suicídio.

Magnificamente poético, mágico e simbólico, «Florbela», revela o talento, acompanhado pela dor, incompreensão, revolta e clausura de liberdades.  Toda a loucura retratada nesta película de Vicente Alves do Ó, está devidamente contextualizada nos anos 20, mas em há uma ténue linha que nos separa daqueles tempos aos que hoje vivemos em pleno século XXI. E muitos de nós, hoje, se irão rever nas permanentes contradições de uma poetisa que, como qualquer génio, só é devidamente reconhecido depois de morto.

1 comentário:

  1. "A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente" Florbela Espanca

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